Luiz Felipe Pondé é definitivamente um filósofo no sentido profissional da palavra: tem formação acadêmica sólida, produção literária vasta e repertório amplo que o permite transitar por diversos autores com desenvoltura.
O filósofo Luiz Felipe Pondé.
Definitivamente, Pondé não é uma fraude intelectual, está longe de ser um Olavo de Carvalho, por exemplo.
Por isso, seu post ontem nos stories do Instagram - que infelizmente viralizou - causa tristeza (não necessariamente surpresa) em quem aprecia uma boa discussão filosófica (mesmo que geralmente discordando dele).
Para quem não leu ou recebeu o POST de amigos como eu: no texto, Pondé sugere que se as eleições presidenciais em 2026 forem entre Michele Bolsonaro e Janja Lula, que os eleitores se curvem à "ancestralidade masculina" e votem na mais "bonita".
Post de Pondé: pura MISOGINIA.
MISOGINIA em estado bruto e máximo.
Primeiro: essa tal ancestralidade masculina é balela, pois os critérios de escolha de companheiras e parceiras mesmo nos primórdios da civilização sempre foram mais complexos que essa simplificação grotesca sugerida por Pondé.
Segundo: o filósofo está propondo o retorno a um passado que não existiu exatamente como ele sugere, mas que ainda assim, sabemos ter sido brutal e indesejável.
Terceiro: ele objetifica as mulheres de forma vil, e vejam, mesmo em se tratando de eventuais postulantes ao cargo mais elevado da hierarquia do Poder Executivo Federal.
Quarto: ele idolatra a BELEZA como predicado como se este fosse o maior valor que uma mulher pode alcançar.
Quinto: sendo a BELEZA um conceito subjetivo e sobremaneira aristocrático como bem recordava o psiquiatra Flávio Gikovate, trata-se de um valor / dom que aquele que a ostenta não fez nada para merecê-la. O belo ou a bela é assim reconhecido circunstancialmente pela fortuna de ser dotado de certas características que são vistas como desejáveis em determinado período histórico. Por isso, Gikovate sublinhava: uma sociedade que emula e idolatra a beleza em detrimento de outras características tende à aristocracia e segregação. A forma como uma sociedade trata os "medianos" diz mais sobre ela do que a maneira como trata os "vencedores"
Sexto e não menos importante: Pondé, homem branco, hétero, meia idade, instruído, economicamente abastado e dotado de enormes microfones e portentoso lugar de fala, decide por si mesmo que está em condições de julgar a BELEZA alheia. Mas será ele também um referencial de beleza? Será que ele gostaria de ser julgado por sua aparência? Não creio que o seus leitores o leiam exatamente por seus atributos físicos. Esse último ponto é crucial para entendermos a MISOGINIA e ficou muito evidente quando o ex-ministro da Economia, Paulo Guedes fez comentários jocosos sobre a aparência de Brigitte Macron (esposa de Emanuel Macron, presidente francês) pelo fato de ser mais velha e não traduzir o padrão de beleza exigido por Guedes. Observem que Guedes e Pondé estão no mesmo pedestal e de lá propondo basicamente as mesmas práticas e escolhas que beneficiam apenas eles: eles decidem quais mulheres são belas e atraentes e eles definem que ser bonita e desejável é o máximo que uma mulher pode aspirar.
O ex-ministro Paulo Guedes.
Brigitte e Emanuel Macron
Sublinho: isso não é conservadorismo, mas sim, reacionarismo em estado bruto.
Comentem: alguém leu o comentário de Pondé?
Quem mais ficou indignado?
Boa sexta!