DRUK: A HIPOCRISIA NOS FAZ BEBER PARA SERMOS AINDA MAIS HIPÓCRITAS?
Esta película venceu o Oscar de melhor filme estrangeiro em 2020, e sinceramente, não penso que seja um filme tão bom a este ponto.
Mas a obra tem méritos inquestionáveis.
Produto do cinema dinamarquês, dirigido por Thomas Vinterberg que foge com habilidade dos clichê, o filme é protagonizado pelo brilhante Mads Mikkelsen, que tem sabido como poucos atores, balancear papéis em blockbusters, com papeis em filmes independentes.
E o que faz Druk merecer ser assistido? A sociedade dinamarquesa, como a maioria das nórdicas é conhecida por um padrão moral menos religioso, e em geral, menos moralista. Em rigor, mais da metade da população dos países nórdicos (Islândia, Dinamarca, Suécia, Noruega e Finlândia) não professa uma religião. Isso os torna menos hipócritas?
Não necessariamente. Os dinamarqueses são famosos por fazerem uso abusivo do álcool, de modo a se perguntar: por que uma sociedade tão feliz, não só aceita e tolera, como até induz seus jovens a consumir vorazmente as bebidas alcoólicas?
Mas o estabelecimento e desenvolvimento dessa premissa é feito de forma muito mais interessante que este post: em um jantar, 04 amigos com problemas pessoais propõem aumentarem o consumo de álcool de modo a estarem permanentemente alcoolizados, mas estabelecem que isso seria feito com metodologia rigorosa e medições constantes do teor alcoólico no sangue. A ideia seria produzir bem-estar sem "perder o controle".
Não darei spoilers, mas é evidente que as coisas não saem como o planejado. O filme funciona como uma alegoria potente, que ultrapassa as fronteiras da sociedade dinamarquesa, e revela como o Ocidenre em geral, abraça o consumo do álcool como se este fosse uma droga muito mais inofensiva do que é, mas sem deixar de sussurrar a pergunta: bebemos para esquecer? Bebemos para suportar a vida que concebemos?
Trabalhos que muitos odeiam, casamentos farsescos, orientações sexuais não aceitas? Por que as pessoas bebem para esquecer justamente o que talvez deveriam aceitar ou mudar?
Por que? Passando longe de fazer apologia contra ou a favor do álcool, o filme nos convida à reflexão.